terça-feira, 8 de março de 2011



Envolvida pela expectativa da chegada do dia 8 de março, quando todos os países comemoram o dia internacional da mulher, parei um pouco pra pensar no dia-a-dia de muitas mulheres que lutam pela própria sobrevivência. Também pensei em algumas figuras femininas da bíblia que sofreram exclusão, sendo silenciadas pela dor e por normas estabelecidas por modelos machistas de religiosidade.

Para começar, considero importante lembrar o desejo de Eva (figura feminina na criação) pelo conhecimento, por respostas a respeito de si e da natureza. Ao alcançar o que saciaria seu desejo, ela foi excluída, marginalizada, e ainda colocada numa posição de dor e sofrimento através da gravidez. Teria Deus proibido à humanidade de conhecer o bem e o mal? Buscar esse conhecimento nos teria realmente feito sentir dor no momento de gerar vida? Essas são perguntas que só me trazem mais perguntas.

Mais adiante a bíblia me mostra uma mulher profetiza, chamada Miriam. Trabalhava para o povo com o mesmo poder que seus dois irmãos, numa espécie de parceria ministerial. Em dado momento da história viu o poder centralizado na mão de apenas um e se mobilizou junto com seu segundo irmão para questionar aquela hierarquia. As conseqüências do seu grito por justiça lhe trouxeram exclusão, humilhação e dor. Seu corpo de mulher foi atingido violentamente, enquanto seu segundo irmão que reivindicou junto com ela saiu ileso da história. Sinto pelo corpo dessa mulher e pelo meu, que tantas vezes quer ter voz num circulo masculinizado, porem recebe exclusão, humilhação e dor.

Preciso também relembrar das mulheres de Corinto às quais Paulo exorta: “... mulheres calem-se nas assembléias; elas não têm permissão para falar; devem permanecer submissas, como o diz a lei.” Que lei é essa que nos cala, que nos submete a saber por meio de terceiros os acontecimentos das assembléias? Depois de conhecer tantos relatos bíblicos de mulheres lutadoras, inteligentes, e de tantas outras virtudes, que nos colocam em pé de igualdade com os homens, vem Paulo e manda que eu cale a minha voz.

Ouvir alguém dizer que nós mulheres temos o poder de conseguir o que queremos em passos sorrateiros por traz das cortinas, isso me parte o coração. Precisamos estar nos palcos e ter voz. Por mais que quisessem calar o saber e o trabalho de mulheres, as muitas Evas e Mirians resistem até hoje, com luta, dança e gestação de sonhos e vida.

8 de março não é comemorado como história bíblica, mas até deveria. A lembrança de mulheres cansadas de se submeterem a jornadas de trabalho excessivas, protestando com seus corpos e vida por justiça. Silenciadas com a morte. Tantas mulheres já foram presas, violentadas, vitimas de violência domestica, ao parir tiveram seus filh@s arrancados dos seus seios, tudo para calar a voz e a vontade de justiça de nós mulheres. Hoje com orgulho de ser mulher, filha, esposa e mãe vou agir comendo frutas, dançando, usando o meu corpo para lutar pela justiça e igualdade de mulheres e homens.