quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A jovem viúva Rute


Um dia desses ao conversar com uma amiga, ela me relatou a história de sua mãe que se casou na adolescência. Um casamento planejado pelos pais, esses acontecimentos eram freqüentes há um tempo. Ela se uniu a um homem mais velho. Na minha opinião uma tradição de abuso ao corpo de uma menina. O que mais me chamou atenção foi à atitude tomada pela mãe da minha amiga quando seu esposo morreu e seus pais novamente estavam arranjando outro casamento para ela. Precisavam zelar por sua reputação, uma viúva não era bem vista pelos outros.

Ao articular o segundo casamento da filha a mesma planejou uma fuga, pois estava descontente com a situação de ter que se relacionar com mais um homem sem amá-lo e também por não ter o poder de decidir sua própria vida. Essa mulher teve a atitude e a ousadia de fugir. Considerei essa história surpreendente. Uma mulher que inserida numa sociedade machista e tendo sua vida totalmente guiada pelos outros, decididamente encontrou força para transformar sua história. E hoje com seus filhos criados e orgulhosos da mãe, vive feliz.

Relembrando essa história pensei no relato bíblico da viúva Rute. Na verdade quando se conta essa narrativa geralmente destaca-se o amor que a nora teve para com sua sogra, também falam sobre a providência divina. Realmente lendo o texto influenciada pelos demais leitores bíblicos, de imediato encontrei todos os destaques que me foram frisados. Tentei buscar algo mais, e encontrei um conto interessante de manipulação e tradição machista. Como uma boa mulher crescida e educada na cultura tradicional de ler a bíblia de acordo com o que sempre me foi dito um dia nunca percebi a triste história de Rute.

Rute ao perder seu esposo, teve a escolha de voltar para casa de seus pais, mas escolheu ficar com Noemi, sua sogra que também ficou viúva. Voltando para casa de Noemi, procurou trabalho no campo para ajudar nas despesas da casa. Nesse período ela conheceu Boaz, o dono das terras, que sendo muito cortez lhe ofereceu trabalho. Esse homem já ouvira falar da estrangeira Rute e como tinha sido leal à sua sogra. Ele a viu com bons olhos por sua atitude e também por sua beleza. Noemi preocupada com a viuvez de Rute, pois essa não era uma boa condição na tradição daquela época, e sabendo do encontro de Boaz com sua nora e de sua boa reputação, tratou de planejar a união dos dois. Rute seguiu à risca tudo que sua sogra planejou e conseguiu arrebatar o coração daquele homem. Com essa atitude ela sai da condição de viúva e pôde dar assistência à sua sogra Noemi.

Não posso deixar de comparar a história de Rute com a mãe da minha amiga, ambas, viúvas e com um nome empobrecido pela tradição, por apenas serem viúvas. A primeira quando já estava procurando ser independente, tentando ajudar a si mesma e à sua sogra, trabalhando e ganhando seu próprio sustento, teve que se submeter a um casamento arranjado simplesmente para enriquecer seu nome e sair da condição de viúva. Provavelmente não precisou mais trabalhar para conseguir sustento e ficou submissa aos agrados do esposo. A segunda, quando se viu livre do primeiro casamento não contraído por amor e sim por um favor de seus pais a outra família, ao ficar viúva teve sua vida novamente planejada pelos outros. Mas essa mulher diferente de Rute teve a ousadia de enfrentar a sociedade e fugir da condição de ter a vida manipulada mais uma vez e assumiu os riscos de viver livre, longe da dependência de uma tradição onde a mulher precisa se submeter à cultura machista e egoísta.

Paro para pensar se Rute vivesse no meu tempo, em pleno século XXI, o que ela faria, na verdade fiquei pensando o que eu faria na condição em que ela se encontrou. Talvez tivesse a mesma atitude, ou planejaria uma fuga como a mãe da minha amiga, ou até mesmo continuasse a trabalhar e lutar sozinha por meu próprio sustento. Acredito que preferia escolher o que mais me fizesse feliz, de forma que eu não precisasse olhar para traz com pesar, pensando que poderia ser diferente, mas simplesmente ser feliz, sozinha, com alguém, ou voltando a morar com minha família. Gostaria que todas as mulheres da minha geração pensassem em ser felizes, independente de certas pressões sociais, e sem a ilusão e a preocupação de se sentirem bem apenas quando acompanhadas de um homem. Não que isso não seja bom, mas não acredito que seja o essencial para nossa existência como mulher.

6 comentários:

Simone Lins disse...

Estava orando por uma decisão que devo tomar essa semana, Deus me deu a vida de Rute como resposta, então comecei a ler na Bíblia, e dei uma busca no Google sobre quem era Rute, veio o seu blog e li seu post sobre ela.
Não é sobre casamento a decisão que tenho que tomar, mas sou divorciada há quatro anos, é sobre mudança, estudar fora por seis meses, vou continuar refletindo e buscando em Deus e, gostei muito do seu blog, continue postando!

GELSON JUNUIOR disse...

oi querida seu blog esta trazendo um reflecção muito grande pois a felicidade pra se realizar precisa de determinação e ousadia. parabéns

Makeup by Mon disse...

Cara amiga,
O seu comentário sobre a história de Rute me parece um pouco fora de contexto, ja que naquela época ser viúva significava muito mais do que apenas ter uma posição social inadecuada, significava viver na mais terrível povreza. Por isso, considero Rute muito corajosa com seus atos.
Por outro lado, o seu último comentário sobre as mulheres do século XXI também não foi do meu agrado. Eu considero que ser mulher é muito mais do que ter uma vida centrada em nós mesmas e buscar a nossa felicidade (isso não poder ser o nosso objetivo). Deus quer para seus filhos e filhas vidas de entrega. Pessoas que não estam tão ocupadas pensando em si mesmas, é sim pessoas sensíveis as necessidades dos outros. Pessoas que buscam fazer felices a outras pessoas, também.
Tal vez possa parecer injusto ou exquisito, mais foi isso que o Senhor Jesus nos insina, com a autoridade de alguem que se deu totalmente, entregando a Sua vida por nós. Por isso, acho que o chamado da mulher do século XXI é também ser feliç, mais abrange muito mais do que isso.
Obrigada!

Ministério apostólico Belém (Casa do Pão) disse...

Olá, amada voce tem razões para pensar dessa forma,acredito.É verdade que todos querem ser felizes ,mas é muito importante fazer outros também felizes.A mulher de hoje não precisa mais agir como a Rute e relação ao casamento,hoje somos livres para escolher ,o livro cita tradições daquela época pois é verdade que os tempos estão diferentes ,porém faça uma meditação diferente . O que Deus quer nos ensinar é sobre relacionamento puro sem interesses próprios com o nosso próximo e com o próprio Deus,relacionamento real e fiel,amor que não pode comprar ,amor que vai além do nosso entendimento,amor ágape.
Voce é uma mulher muito inteligente e sei que conseguirá entender.
Gostei muito da sua reflexão ,mas experimente ver pelo lado ágape de Deus.Deus te abençoe amada.
Pr.Eliete Loppess.
email:elieteloppess@yahoo.com.br

Inez disse...

Olá, querida Carla.
Acho seu artigo sobre a vida de Rute um tanto descontextualizado, porque naquela época, a situação de viuvez sem filhos, era das piores em termos de pobreza e desprezo social. Ao contrário do que pareceu, Noemi ao orientar Rute no sentido de posiciona-la a casar-se com o remidor, estava cumprindo uma lei extremamente importante para Israel, que tratava de cuidar que parentes homens, suscitassem descendência ao irmão falecido. Isso pode parecer estranho para nos hoje, mas era uma forma de manter a cultura e socializar uma família que estivesse exposta à situações como aquela.
Acredito também que história da sua amiga, não se parece em nada com a de Rute, porque ao contrário da sua amiga, Rute fez sua opção de mudar sua cultura e adotar a cultura de seu marido falecido. Ao optar por ficar com a sogra, provou que identificava-se muito mais com aquele povo e cultura do que com a de seus pais. Ela optou e seguiu direitinho as regras sociais da época, e isto resultou no nascimento do rei Davi duas gerações depois.
Acredito que a situação de sua amiga é bem diferente. Acho que ela estava certa em fugir daquele sistema, sem poder de autogovernar-se.
Não esqueçamos que embora os personagens bíblicos fossem homens e mulheres como nós, seu contexto social da época tem que ser levado em consideração, além de serem a narração histórica de como Deus guiou as nações para que Jesus pudesse nascer e ser tudo o que Ele é para nós.
Muito obrigada.
Deus a abençoe,
Inez

Rúbia Carly disse...

Quem bom poder ler comentarios sobre meu texto após 3 anos de te-lo escrito. Todas as falas são bem vindas. No contexto no qual escrevi ainda mantenho minhas possições, porem a partir de algumas provocações que tenho vivido diante da novela bíblica de Rute, já não a leio mais como uma simples história de mulher. Estarei a partir de hoje postando algumas provocações a respeito dessa história fantastica.